Efetuei com sucesso a transferência do meu título de eleitor para votar ano que vem em qualquer um menos no Bolsonaro. Supondo que haverá eleições ano que vem (espero que sim). Supondo que haverá Bolsonaro entre as opções (espero que não).
Quase duzentos anos atrás, num dia bonito de 7 de setembro, D. Pedro I proclamou a independência do Brasil. Montado em uma mula e com dor de barriga, libertou o Brasil de Portugal.
Amanhã, mulas montadas por um presidente sempre às voltas com bolsas de colostomia vão às ruas para libertar o Brasil das eleições, do Congresso Nacional, dos ministros do STF e de tudo que tiver cheiro de democracia. Até restar apenas o presidente seguido por uma turba de zumbis com crucifixo no peito e fuzil na mão.
Eles vão reivindicar o poder que emana do povo para por fim ao “Estado totalitário, opressor, comunista, ateu, marxista, hedonista, imoral, satanista, que quer destruir todos os valores cristãos para uma sociedade de baderna, do sexo solto, abusando de crianças, fazendo gayzismo, fazendo o apassivamento, droga, aborto”. (sic! sic! sic! sick!)
Não sabemos se serão milhares, milhões ou se a montanha vai parir um rato. Também não sabemos, e aí que mora o perigo, quantos estão dispostos a usar a violência e armas de fogo para atacar instituições e forjar uma força que o presidente vem perdendo dia após dia. E existe o perigo maior: a insubordinação de policiais militares que, fanatizados, desestabilizados por uma profissão arriscada e muito mal pagos, foram cooptados e corrompidos pelo bolsonarismo.
O que sabemos é do esforço gigantesco que a turma bolsonarista e o presidente estão fazendo nas redes sociais para colocar gente na rua amanhã. Segundo a Folha de São Paulo, em agosto, depois que Bolsonaro passou a convocar o pessoal para a manifestação, as menções aos atos nas redes ultrapassaram as 700 mil, e vieram de 100 mil perfis.
Não é só colocar gente na rua que eles querem. Pretendem dar tintas militarizadas à manifestação. A coluna da Malu Gaspar n’O Globo informou que as buscas por uniforme militar dispararam 1.000% em agosto, em relação ao mesmo período em 2020. Zumbis vestidos de soldado para motivar a adesão daqueles oficiais que ainda estão indecisos e colocar medo na população.
Bolsonaro chama o apoio de milicianos, civis armados, policiais militares e oficiais das forças armadas amotinados de guerra pela liberdade do país. “Um povo armado jamais será escravizado”, ele diz. Na verdade, angariar essa gente para incendiar o país é a única esperança que tem de não ir para a cadeia junto com seus filhos que desviam dinheiro público em práticas de rachadinha.
É uma incógnita se o caldo vai entornar de vez, se vai dar sobrevida às bravatas golpistas de Bolsonaro ou se vai flopar e transformá-lo numa espécie de Collor quando convocou a população para manifestações e terminou por impulsionar o processo por sua deposição.
O ungido de Deus que está abrindo o caminho para a liberdade mas sendo impedido por forças terríveis (o Estado Democrático de Direito) é um sujeito que até o momento deixa ao país o seguinte legado: 7% de inflação, R$ 7 no preço da gasolina, dólar a R$ 5,20, cenário de estagflação, recuo de 0,1% do PIB, cesta básica acima dos R$ 500,00 (metade do salário mínimo), botijão de gás acima de R$ 100,00, 14% de desemprego, 14,4 milhões de desempregados, 585 mil mortos, devastação de 11.088 Km² da Amazônia só entre agosto de 2019 e julho de 2020, aumento na tarifa de energia.
Agora a população vai precisar tomar banho frio e evitar o uso de ar condicionado. “E daí?”, pode perguntar o presidente que sugeriu à população fazer cocô dia sim, dia não para ajudar o meio ambiente. O calor está chegando. Se estiver com muito quente, tome um banho gelado. Resolvido. “Qual o problema de a energia ficar um pouco mais cara?”, pergunta o ministro da Economia.
Não entramos para a OCDE, fábricas fecham as portas no país, a devastação ambiental atrapalha o agronegócio e a população do maior exportador de carne bovina do mundo come ovos porque a carne está muito cara.
Este é o legado para a população. O legado para a família é diferente.
7 de Setembro
Oremos, irmãos!
Momento difícil!!!