Essa semana recebemos uma charmosa caixinha do projeto “Orgânico - agora está na sua mão”. É uma iniciativa da cidade do Porto para promover a separação do resíduo orgânico e jogar um pouquinho da culpa do caos ambiental no cidadão comum. O habitante da cidade recebe um pequeno container de sete litros e um cartão que desbloqueia a caçamba de lixo reservada para esse tipo de resíduo. No balde você coloca sobras de pão, alimentos cozinhados, legumes, cascas de ovos, etc., e despeja na caçamba se sentindo um cidadão que está fazendo a diferença.
Desde junho em Portugal já é permitido produzir e comercializar insetos para o consumo humano. Com algumas espécies de larvas, gafanhotos, grilos e um besouro desidratados poderemos fazer farinhas com alto valor de proteína. Por enquanto não está nos planos comer estes insetos como comemos feijão ou de repente fazer um estrogonofe de besouro. Mas eles apontam para uma tendência de sustentabilidade. Usam muito menos água e não geram a quantidade de gases com efeito de estufa que o gado gera. Não o gado que nos inferniza nas redes sociais e na orla de Copacabana pedindo voto impresso. O gado que está em paz peidando metano na atmosfera.
Ai Weiwei, o grande artista plástico chinês, escolheu ser imigrante em Portugal e está expondo na Fundação Serralves, aqui no Porto. Instalou o “Pequi-vinagreiro”, uma árvore de ferro morta de 32 metros de altura no parque da fundação. O pequi-vinagreiro é uma árvore brasileira em extinção.
Em entrevista ao jornal português Expresso, ele disse que “O Brasil é o pulmão verde do mundo, tem fortes relações com a China e está destruindo suas florestas para ocupar os terrenos com agricultura e criação de gado. Não só a China é corresponsável, como os países ocidentais contribuem para o desequilíbrio ambiental.” A obra, inspirada na árvore que ele encontrou morta na Bahia, teve contribuição de brasileiros, chineses e portugueses. “Pensei: ‘por que não utilizá-la como um símbolo de destruição ambiental?’”
Uma edição recente da National Geographic sobre algumas espécies de baleias que são “tão brincalhonas, sociais e curiosas como nós”, está recheada de textos menos simpáticos que falam da morte de recifes de corais e do coração do Mediterrâneo que ainda bate, “mas que tipo de futuro seremos capazes de lhe oferecer?”. Toda hora aparecem os ‘gases com efeito de estufa’. Gosto mais da caracterização portuguesa: “gases com efeito de estufa.” Dá a dimensão do sufocamento. É uma diferença sutil, mas perto dela, a definição brasileira (“gases de efeito estufa”) parece um eufemismo que mais desvia do assunto do que explica.
Li esta edição da revista ao longo da semana em que pessoas morriam de calor no Canadá, crianças faziam bonecos de neve no Brasil e enchentes carregavam casas na rica e preparada Alemanha. Quando terminei a leitura, quis o algoritmo ou o destino que aparecesse para na minha timeline uma matéria do Guardian sobre o enfraquecimento e instabilidade de um “sistema de circulação do Atlântico” que pode provocar um colapso ambiental em breve (na próxima década) ou daqui a cem anos.
Entendo tanto de “sistemas de circulação do Atlântico” quanto de regras do nado sincronizado, mas é falar de ‘colapso ambiental em breve’ que meus nervos se desprendem como cordas de violão. E nossa vida nos últimos tempos se resumiu justamente a uma catástrofe que pode acontecer “em breve, daqui a cem anos ou não acontecer”. Não está fácil ser ansioso em 2021. Ansioso não trabalha com “talvez sim, talvez não. Aguarda aí na disciplina”.
Dou alguns exemplos: Um colapso econômico pode acontecer ano que vem, daqui a quinze anos ou não acontecer. A pandemia pode acabar ano que vem ou daqui a cinco anos com o surgimento de novas variantes. O Bolsonaro pode tentar dar um golpe esse ano, ano que vem ou sucumbir em soluço. A União Europeia pode se desfazer como um castelo de areia daqui a dois anos, dez ou cem. A Amazônia virar uma savana daqui a dez anos, cinquenta ou nunca.
Vou terminar citando Pessoa para bancar o profundo que tem a sabedoria e serenidade de encontrar abrigo na poesia: “Compreender é ser impotente.” E outra: “Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. / Não florescem no inverno os arvoredos, / Nem pela Primavera / Têm branco frio os campos.” Aqui claramente vemos a tranquilidade de alguém que não sabia o que eram alterações climáticas.
Eu acho que o mundo está acabando. E o pior é que eu nem estou com medo, já estou querendo que esse negócio acabe logo e dê fim nessa minha ansiedade…
E quando seria fácil para você ser ansioso? 😍